Friday, March 11, 2016

G.I.Joe: Estamos vendo mais um "fim" da linha de brinquedos?



Diversos boatos tem corrido a rede sobre o fim da linha de brinquedos do G.I. Joe. 

A última leva dos brinquedos da Hasbro foi uma linha de repaints, feitos, com certeza, só para não passar um ano em branco e, talvez, testar o mercado com essas figuras com um tom de cores completamento diferentes de seus originais, mesmo na linha 25th, Pursuit Of Cobra, Rise of Cobra, 30th e GI Joe - Reataliation, sendo chamada de uma continuação da linha 50th.

Vimos um Dusty PoC em azul, tipo marinheiro. O mesmo para um Bazooka. Confesso que não me interessei pela linha, pois a única razão para ter o mesmo AF em cores diferentes deve ser para fazer um diorama de game de luta. 

A marca, não é de hoje, tem vendido menos do que o sucesso Transformers. A linha de robôs mutantes é um sucesso tão grande que, mesmo com os últimos três filmes da franquia de cinema serem considerados muito francos de roteiro, fizeram dinheiro suficiente para já termos agendas mais três continuações para o cinema além de um filme solo do Bumblebee, o Camaro amarelo. Você pode ler mais sobre isso aqui

Com uma franquia de cinema e desenhos animados, a linha segue forte e tem tido investimentos em eventos até no Brasil, com exposições e oficinas. O fã clube de Transformers aqui no Brasil até ajuda com consultoria e acervo dos membros para algumas exposições, com apoio logístico da Hasbro. 

Nem precismos dizer como vai a linha Star Wars e a linha Marvel da Hasbro. Cinema, desenhos, quadrinhos... tem de tudo para apoiar as vendas, mesmo em um país onde não se pode mais fazer propaganda de brinquedo em programa infantil. Lembre que isso matou os programas infantis na TV aberta. 

Mas e G.I.Joe? 

A linha teve várias paradas no decorrer de sua história. Fatores externos como mudanças sociais e econômicas ditaram as mudanças e pausas na linha. Dessa vez, deve ser só queda das vendas, mesmo, e por uma concorrência mais acirrada com outras linhas de figuras militares mais realistas e o crescente hábito do custom, a modificação e personalização das figuras. Sobre a história do G.I. Joe, você pode saber mais em nossa resenha dos 50 anos de G.I. Joe no blog Nerdandade

Com um terceiro filme em produção, ainda em fase de roteiro, sem uma animação e três linhas de histórias em quadrinhos com dois "universos" G.I. Joe diferentes (o que torna confuso para muitos), não podemos dizer que a franquia tem tido todo o apoio que merece.

Há boatos de que a linha de figuras de 1/6 seria renovada, com figuras um pouco mais profissionalizadas e menos "brinquedo" para concorrer num mercado que foi engolido por figuras BBI e Dragon que praticamente elevam para o estado da arte as figuras militares, sem contar trabalhos diversos como os da Sideshow Collectbles e da Hot Toys. Há quem ache ruim eu dizer, mas quem coleciona Hot Toys não fica muito impressionado com o trabalho do artista Ron Mueck. Mas como é boato, não podemos dizer que essa renovação irá ocorrer.

Não é novidade que, no Brasil, não se vende mais G.I. Joe, Comandos em Ação, como se vendia antes. Muita coisa mudou. A linha Retaliation aqui foi quase um fracasso e de acordo com fontes que conhecem os executivos da Hasbro aqui, trazer G.I. Joe para o Brasil é perder dinheiro. De fato, a figura chega aqui para ser vendida por R$ 49,90, encalha um tempo, pois as crianças não tem apelo pelo brinquedo, não temos mais essa tradição, e os adultos que curtem acham caro e esperam encalhar e entrar em promoção. Mas aí a empresa já sofre pressão do grupo dono da PB Kids e da Ri Happy e baixa a tabela para R$ 19,90. Libera as prateleiras, leva o prejuízo e segue adiante. Não pense que é só isso: quando baixam a tabela a Hasbro e a Matel simplesmente obrigam as lojas a comprar a diferença em outros produtos. Quem não topa ou não tem como bancar, mantém na prateleira o encalhe até o último item sair. 

Nos EUA, o principal mercado, não parece, mas a Hasbro e a Matel tem apenas 30% do mercado. Lá, o mercado de brinquedos é muito pulverizado e muitas empresas menores conseguem vender bem produtos licenciados de várias linhas, seja de esportes, TV ou cinema. Lá é uma briga mais acirrada. Aqui, a briga é com o 1,99, devido à nossa linda história econômica e a confusa estratificação de nossa sociedade. 



Mas, no cenário externo, a Hasbro realmente tem deixado de lado a linha. No ano passado o G.I. Joe Collector's Club lançou trinta produtos G.I. Joe licenciados. Foi mais do que a Hasbro levou para a Toy Fair. Esse ano a Hasbro não levou nada da linha G.I. Joe para a Toy Fair. 

Em dezembro, já tínhamos dúvidas se tudo ia correr bem, como se pode ler na matéria do generaljoes.com aqui.

Sempre existiu uma confusão entre muitos colecionadores que criticam as figuras GIJCC de que a Hasbro não estaria fazendo um trabalho tão bom, pois não investiu em novos acessórios, novos sculps de cabeças, etc. Mas como são produtos licenciados, na verdade quem define isso é o cliente, no caso, o GIJCC. Evidente que todo desenvolvimento de produto tem custos e isso envolve o quanto você quer e o quanto você pode gastar. A função do clube não é vender para o mundo, eles atendem o mercado deles. E o número de filiados, de acordo com o próprio clube, não é tão grande e não tem crescido. Dessa forma temos um mercado mais fechado e uma produção mais direcionada e limitada. E assim temos repaints e reaproveitamento de moldes para baratear o custo de produção. Como estamos falando da produção de milhares de itens e não de milhões, temos uma sensível diferença de um produto Hasbro de prateleira que é vendido lá fora por US$ 5,99 em média, mais taxas, e um GIJCC exclusive que é vendido na loja do clube para os associados por US$ 32,00. Volume de produção impacta muito no preço final.

Com certeza não sai barato para o GIJCC produzir as linhas e com os preços, acaba sendo acusado de vender algo que peca em qualidade e criatividade e custa caro. Por ser exclusivo do clube, os não membros ficam reféns daqueles que conseguem comprar em volume e vender no e-bay figuras que, de seu custo no clube, acabam saindo por US$ 50,00, US$ 70,00 e depois, até mesmo por mais de US$ 300,00. Não que o objetivo do clube fosse atender toda a comunidade de colecionadores. O clube é administrado pela Fun Publications, uma editora do Texas e, com certeza, eles fazem sua demanda de produção baseada no número de sócios nos EUA e no mundo e em suas médias de consumo e devem produzir uma margem extra para suprir os que negociam com esses membros. Só. No Brasil, isso representa figuras, hoje, com custo mínimo de mais de R$ 250,00 e com algumas, hoje consideradas raras, batendo e passando dos R$ 1.000,00. 

Desse forma, entendemos porque nunca apoiaram outros fã clubes fora dos EUA. Há algum tempo estudei muito o caso de criar um fã clube no Brasil para G.I. Joe, Comandos em Ação e Falcon e minhas pesquisas resultaram na impossibilidade financeira de isso acontecer pelo simples fato de os interessados não estarem dispostos e haver uma grande dificuldade em criar as recompensas para o sócios. A Hasbro, quanto à G.I. Joe, beira o total desinteresse pelo Brasil. Para o G.I. Joe Collector's Club, seríamos mais um concorrente, mais figuras no mercado, caso se firmasse um acordo. Mas falta muita bala para se entrar nessa guerra. 

Mas bem ou mal, o GIJCC ainda era(ou é) o único meio de ter anualmente algum fervo com a linha, seja pelo Figure Subscription Service, seja pelos exclusivos da convenção. Agora, com a aparentemente moribunda parceria com a Hasbro noticiada  ontem (veja aqui), podemos ver o fim de 20 anos de uma parceria que criou figuras que ainda hoje muita gente quer ter. O Transformers Collector's Club vai sair da Fun Pub e já deu enfase que ainda vai convenção no ano que vem. O GIJCC, embora tenha declarado que não é o fim, não deu tanta enfase a essa mesma certeza.

O fim da parceria da Hasbro com o GIJCC e a falta de perspectiva no horizonte de algum lançamento da franquia esse ano cria um hiato de lançamentos do GI Joe que não víamos desde o começo dos anos 2000, antes do 11 de Setembro dar um novo gás ao brinquedo soldado. Isso faria com que só tivéssemos novidades com o lançamento do terceiro filme, ainda em fase de produção e que pode ser algo totalmente estranho, já que a Hasbro e a Paramont decidiram seguir os passos da Marvel e da DC e criar um universo cinematográfico, envolvendo o M.A.S.K, os Visionaries - Os cavalreiros da Luz Mágica, ROM - O cavaleiro do espaço e os Micronautas. M.A.S.K. e Visionaries tiveram series animadas nos anos 80 e foram exibidas no Brasil por SBT e Globo, respectivamente, e ROM e Micronautas pelos quadrinhos da Marvel foram publicados no Brasil pela Editora Abril nas revistas da linha. (leia mais aqui)

O que esperar disso é até meio assustador, como o Universo Compartilhado que a DC Comics está criando para os personagens Hanna-Barbera nos quadrinhos. 

De qualquer forma, até termos realmente um comunicado, ficamos com a ambiguidade dos e-mails relatados na matéria do generaljoes.com e tristes o que pode ser o fim de uma era e, de uma forma ou de outra, manter o que todo colecionador tem: esperança de que melhore.

PS.:  Antes que surja alguém dizendo "que bom, a Estrela pode pegar e voltar à fabricar Comandos"  ou "a Funskool pega os moldes e arrasa com uma baratinhos", lembre que é um produto licenciado e a Hasbro, com filmes para sair no cinema, deve ter muito pouco interesse em ceder direitos para terceiros lucraram onde ela mesma pode lucrar diretamente no futuro. Tendemos a achar que executivos são míopes quanto ao mercado, mas se isso fosse 100% verdade, a Hasbro não seria do tamanho que é. Cometem seus erros, mas devemos lembrar que o público alvo deles são as crianças e não nós, marmanjos que tentamos fazer nossos filhos e sobrinhos largarem do videogame para fazer guerra no quintal. As coisas mudam. Feliz ou infelizmente, as coisas mudam.