Wednesday, November 13, 2019

Buggy do Falcon: alegria, pranto, ranger de dentes, fatos e suposições.



E finalmente, e antes do esperado, a Estrela SA, a nossa Brinquedos Estrela, lança o tão pedido e sonhado Buggy do Falcon, repaginado como Buggy com Radar: Perseguição no Saara. 

Como já havíamos divulgado antes (leia aqui), o buggy estava nos planos da Estrela mas era meio que algo para o ano que vem e foi antecipado, primeiro para alegria geral e surpresa e com a incógnita de como fica o Falcon Primus nessa história e tão perto do lançamento dos Olhos de Águia no fim do ano, na CCXP. 

E, claro, todos esperavam o buggy no preço do Jipe de Aventuras do Falcon que, ainda, está à venda pelo preço de R$ 99,99. Mas como o buggy seria uma edição limitada já era esperado que fosse mais caro, no entanto a comunidade de colecionadores ficou surpresa com o preço de R$ 299,99. Para um item confeccionado com plástico polipropileno soprado é uma percepção de valor bem elevada, ainda mais se comparado com o jipe. No entanto, várias considerações devem ser feitas, não como defesa da empresa em sua estratégia de vendas de mercado de nicho, mas para tentar entender que esse custo não é de todo injustificado. 

Claro que, para o colecionador que comprou o Falcon Nautilus: Missão Abrolhos (leia aqui) a percepção de preço é discrepante pois um produto de maior complexidade como é o caso do boneco apresenta o mesmo custo final de R$ 299,99, comparado com algo é somente soprada uma massa de plástico em uma forma e não tem as partes menores, coladas e rebitadas do Falcon. É difícil para o colecionador entender a métrica usada para construir os dois preços. Então vamos tentar. 

Quando o Falcon foi relançado em 2017 foram lançados dois modelos, o Falcon Explorador e o Falcon Turbocóptero e como promoção exclusiva do site, do e-commerce da Estrela, o Jipe de Aventuras. (leia aqui)



Como a Estrela ficou empolgada com a receptividade da mídia e do público, injetou um monte, mas também respeitando o principio que a manufatura sempre usa: se você produz mais, reduz o preço na escala. A Estrela nunca divulgou os números de sua produção nesse ano, mas os boatos e indícios que foram entre 20 e 25 mil Falcons produzidos naquele ano, todos morenos e com barba e, inclusive, há quem diga que o Salto Fantástico, lançado em dezembro de 2017, é uma parte dos primeiro sproduzidos mas com a roupa e os acessórios. (Leia sobre o Salto Fantástico aqui). Do jipe, nem fazemos ideia de quanto foi produzido. Mas ouvi da Natália Lamano, que foi responsável pela linha do Falcon, que a máquina que injeta o jipe não é ligada para produzir menos de 3 mil peças, pois o custo de operação, mais a mão de obra para acabamento das peças e tudo mais, não permite uma escala menor. 

Então, aos fatos: quando o jipe encalhou, pois até hoje ainda existe Jipe de Aventuras do Falcon em estoque, o buggy foi engavetado, pois não havia como produzir o buggy, de acordo com a política de custo de produção da fábrica. Afinal, com centenas de jipes parados, injetar mais alguns milhares de buggys era certeza de encalhe e dinheiro parado. O buggy tinha morrido ali, mesmo com o Ricardo Beluchi fazendo uma campanha pela volta do buggy. 

Mas daí, no final de 2018, a Estrela fez um teste com os Falcons de Edição Limitada.(Leia aqui) E foi um sucesso, apesar dos problemas de logística e tudo mais, pois a Estrela não estava preparada com um e-commerce melhor e tiveram problemas na produção, que foi atrasada. O atraso da produção foi, justamente, poque a fábrica tinha uma encomenda grande de bonecas para exportação e o diretor não quis parar a linha para trabalhar 1200 falcons para fim de ano. Na visão do diretor da planta fabril produzir em massa é mais interessante, lucrativo e prático do que produzir em pequena escala. é troca de molde, de método de produção, deslocamento de pessoal, mudança de matéria prima, mudança de PCP e tudo mais. Dor de cabeça. Por isso o Falcon atrasou em 2018. 

As edições limitadas venderam rápido para os colecionadores e isso mostrou para a Estrela o tamanho do mercado dela para o Falcon e, hoje, se estabeleceu que são 1000 bonecos por aventura. O preço inicial de R$ 400,00 por item, ficou. Os ODA virão ainda com preço desconhecido, mas dada a complexidade e o trabalho para refazer e consertar moldes de injeção, deve ficar entre R$ 400,00 e R$ 500,00 reais. Mesmo que fique mais, ainda será mais barato do que os R$ 1000,00 que se pede por uma cabeça olhos de águia dos anos 80. 

E como edição limitada, mesmo que não numerada, o relançamento do buggy nos deixa felizes mas, ao mesmo tempo, chocados com o preço. Evidente que eu gostaria que fosse mais barato, mas como pesquisador do mercado e da lógica de produção, me sinto forçado a entender e concordar com o mercado. R$ 300,00 é um preço justo. 

Não sabemos quantos serão injetados, mas sabemos que qualquer volume abaixo de 3000 mil peças é prejuízo ou custo elevado. Se forem 500, conforme me foi dado a entender pela responsável pela linha em agosto, esse custo está dentro do esperado pela escala reduzida de produção. Esse custo envolve desde a compra de menos matéria prima, o que reduz o poder de negociação e compra e até o fato de que a Estrela, segundo soubemos por alguns fornecedores, não está podendo faturar com alguns deles, podendo somente comprar matéria prima à vista. Envolve o próprio custo da máquina, uma injetora das antigonas que consome muito e até o pessoal que ficará nessa linha. A produtividade desse item é baixa e desloca pessoal para tirar rebarba na faca por horas, com vários riscos laborais. 

E nem falamos dos custos em impostos e outros fatores que encarecem a produção no Brasil, incluindo os custos de logística. Muita gente pensa que como o Explorador e o Turbocóptero já foram vendidos por R$ 99,99 em promoções de black friday esse é custo deles, mas todas as estimativas deixam que o custo final do Falcon Explorador fique em torno de R$ 130,00 a R$ 140,00. Então, sim, algumas unidades foram vendidas abaixo do custo, bem abaixo do custo, como promoção, simplesmente porque, à vezes, compensa para empresa como forma de propaganda fazer isso para possibilitar ao consumidor que deseja, mas não teve acesso, ter esse acesso e, assim, despertar o desejo de ter mais pelo preço convencional ou incentivar a compra dos similares que não estavam em promoção. 

Outra coisa que ainda mantém a linha é o fato de ter se tornado promoção exclusiva do e-commerce, o que torna um item de venda direta ao consumidor, sem intermediários, sem tempo gondola e sem possibilidade de encalhe. 

O mercado nacional de brinquedos trabalha com uma margem de 20% para o distribuidor final, as lojas. Assim, qualquer brinquedo que você compre na Ri Happy, PB Kids ou qualquer outra loja, que você paga R$ 100,00, custou, para a loja, R$ 80,00. Desses 20% de margem, a loja tem que tirar todo seu custo e seu lucro. Hoje, se uma loja tem 7% de lucro num produto, é felicidade. Mas essa margem cai pelo tempo de gondola, o tempo que o produto fica na prateleira esperando vender e, esse tempo, em geral, é maior do que o tempo do faturamento do pedido e também pela custo de operação com cartões e tudo mais. 

Pra Estrela é ótimo não ter que dividir sua margem com terceiros pela compra direta, mas seus preços obedecem as regras de todos os produtos que serão vendidos ao varejo e, assim, essa margem que não vai para o varejista fica para a Estrela. E pra uma empresa que acabou de registrar prejuízo qualquer lucro adicional é ótimo. E esse adicional é o que mantém a linha hoje, pois se fosse para o varejo, não se justificaria mais a produção.

---

Agora, falando realmente do Buggy, a cor preta ficou ótima, embora todo mundo tenha pensado em beje por conta da palavra "Saara" na divulgação. Os adesivos com a escala de verde eu achei lindos. Se bem que, parece mais um verde bem escuro do que preto. Quando o meu chegar eu abro e descubro exatamente vejo se faço um unboxing. 

Claro que a caixa conta com a arte do amigo Marcelo Peron e aquele acabamento para parecer mais velhinha. Muita gente estava querendo que o buggy tivesse a escala da arte da caixa, para o Falcon até ter espaço para dar uns amassos na Barbie... mas não vai rolar. Nem vão criar um novo molde para isso, pelos óbvios motivos de custo. 



As fotos mostram que é o mesmo molde do clássico azul, incluindo o radar. Algumas pessoas reclamaram, na monocórdia mesmice, de que o veículo não vem com armas. Mas o original nunca teve armas, só o radar. Na foto abaixo o lançador vinha no jipe azul. 




E mesmo esse jipe azul não é o veículo original desse lança mísseis, pois o mesmo vinha com um jipe do Exército Brasileiro que a Estrela produziu nos anos 70 e, inclusive, o lançou como parte dos Comandos em Ação. 


Mas comparando o jipe azul com o preto, é realmente o mesmo jipe, apenas em cor diferente. Se for comparar os dois, deve-se encontrar as mesmas marcas de injeção, assim como o fizeram com o jipe. 



E vale lembrar que nem o jipe era original do Falcon, mas da Susi, era o Bell Buggy, de 1974. Roubei uma foto da amiga Ana Caldatto para ilustrar aqui. 



Confesso que eu gostaria que fosse mais barato para eu comprar mais e customizar um. Mas não vai ser dessa vez. 





Agora, falando em mercado, um buggy do Falcon original já chegou a ser vendido por R$ 6.000,00 sem caixa. Me ofereceram um por R$ 2.500,00 uma vez, mas na época eu dava isso de entrada em um buggy de verdade. Nesse momento, tem um no Mercado Livre, sem adesivos, sem radar, sem santo-antônio, sem volante, por R$ 900,00. E teremos um novo, na caixa, por R$ 300,00. Sim, é caro, Não, não é para todo mundo. Não, não acho que a Estrela esteja explorando o pobre colecionador com preços extorsivos. Mas ainda é melhor que pagar milhares de reais pelo original. A percepção de valor à partir do jipe ou da suposta simplicidade de produção é equivocada. 

Não vou dizer que devem ficar felizes por ter buggy novamente e nem que sem isso pode não ter mais Falcon. Isso vai acontecer um dia. Mais cedo ou mais tarde o Falcon acaba de novo. Mas talvez não se deva demonizar tanto uma empresa e um produto por querer fazer o que uma empresa faz, que é lucrar. É disso que ela vive. Nem minimizar a qualidade do produto que, já era fora da escala em 1983 e nunca nos fez brincar menos (pelo menos, quem teve, eu não tive) e a qualidade é mesma de antes, o mesmo CARRINHO DE BRINQUEDO de 1980 e tanto. 

Mesmo com o custo alto, ainda é um brinquedo, foi concebido assim em sua criação e continuará assim. Infelizmente não podemos exigir a qualidade de um Hot Toys ou um Sideshow com o preço de um xing ling. Não é uma questão de se "conformar" com o que temos, mas entender que o produto era assim em 1980 e é o mesmo hoje. A diferença, talvez, seja o fato de não sermos mais crianças e termos a mesma aura de magia quanto ao brinquedo. E, ao mesmo tempo, ao sermos adultos temos uma outra percepção de valor. Vi alguns pedindo boicote ao produto para forçar a empresa a baixar o preço. Isso não vai acontecer. É quase o mesmo que pedir boicote à Globo por ser golpista ou mentirosa: a melhor novela ainda passa lá. Boicotar a empresa que produz os únicos Falcon/GI Joes no mundo hoje é uma bobagem. 

Desejo sorte à Estrela na empreitada do buggy, seja edição limitada por produção ou seja que a pré-venda tenha sido concebida para medir o mercado desse item. E desejo sorte a quem puder comprar dez deles para vender no futuro por mirlão cada. Pois já sabemos quanto esse buggy vai custar daqui uns anos, com ou sem boicote. 

Já que divide em 10 vezes, eu comprei dois. Se eu pudesse, tinha comprado 10. Em 10 vezes.

E fica a sugestão pra Estrela: olha que lindo era esse buggy de areia da Susi... se ainda tem molde, o Falcon pode ter uma aventura nas dunas do Maranhão... nem precisa das armas, eu mesmo armo um buggy desses depois com metralhadoras chinesas.


Atualização:

A Estrela lançou um anúncio abrindo a venda para todos, não somente o pessoal do Fã Clube do Falcon. O produto está disponível para pronta entrega e a pré-venda foi apenas para prestigiar os sócios do Clube com a prioridade de compra. E confirmou que foram produzidas 500 unidades. Assim, com umat iragem baixa, fica confirmada a razão do preço elevado. 


Mas a polêmica continua e as reclamações também. Embora parte da comunidade tenha recebido a novidade de braços abertos, mesmo estranhando o preço, outra parte o considera injustificável e abusivo, acusando a empresa de desejar explorar o colecionador. As discussões prometem permanecer acirradas até o lançamento dos Olhos de Águia na semana da CCXP, onde o preço, ainda desconhecido, deverá trazer muito mais debates, pra bem ou pra mal.

De minha parte, fico feliz com o lançamento, triste com o preço, alegre com a chegada da caixa e pesaroso de nem todos os colecionadores conseguirem dar o valor agregado devia a um item muito pedido e lançado com muito esforço pela Estrela depois do fracasso do jipe. Mas a linha sobrevive, segue adiante. Apesar dos pessimistas.